Ilhustração mostrando instantâneos de uma simulação do astrofísico Volker Springel do Instituto Max Planck na Alemanha. Ela representa o crescimento da estrutura cósmica (galáxias e vazios) quando o universo tinha 0,9 bilhões, 3,2 bilhões e 13,7 bilhões de anos de idade (agora). Imagem via Volker Springel/ MPE/Kavli Foundation.

Energia negra é o nome dado à misteriosa força que está fazendo com que a taxa de expansão do nosso Universo acelere com o tempo, ao invés de abrandar. Isso é contrário ao que se poderia esperar de um universo que começou em um Big Bang. Os astrônomos no século 20 aprenderam que o universo está se expandindo. Eles pensaram que a expansão poderia continuar para sempre, ou eventualmente – se o universo tivesse massa suficiente e, portanto, autogravidade suficiente – reverter e causar uma Grande Crise. Agora, no início do século 21, essa ideia evoluiu. O Universo é visto como se expandindo mais rápido hoje do que há bilhões de anos atrás. O que poderia estar causando o aumento da taxa de expansão? Os astrônomos agora às vezes falam de uma força repulsiva como uma possível forma de entendê-la.

Até ao final dos anos 90, a maioria dos cosmólogos acreditava que o Universo não tinha massa suficiente para causar uma Grande Crise. Em particular, dados adquiridos pelo 2dF Galaxy Redshift Survey e pelo Sloan Digital Sky Survey pareciam confirmar que o Universo se expandiria para sempre, embora a um ritmo cada vez menor à medida que a própria massa e gravidade do Universo tentava puxá-lo para trás.

A primeira indicação de algo revolucionário prestes a ser descoberto veio em 1998 durante um levantamento de supernovas Tipo 1A. Estas explosões massivas de estrelas gigantes moribundas são extremamente úteis para os astrônomos porque elas sempre emitem a mesma quantidade de luz, e por isso podem ser usadas como as chamadas “velas padrão” para calcular distâncias no cosmos. Esta é uma ideia muito simples. Pense em pirilampos à noite: todos eles brilham com o mesmo brilho instrínseco. Medindo o brilho de onde você está, você pode calcular sua distância.

O levantamento de 1998 estava sendo realizado por dois grupos internacionais de astrônomos, incluindo os americanos Adam Riess e Saul Perlmutter, e Brian Schmidt na Austrália. Usando oito telescópios no mundo todo, o objetivo deles era usar a distância de supernovas Tipo 1A para calcular a taxa de expansão do universo, conhecida como a Constante Hubble (embora na realidade, como a taxa de expansão do universo varia com o tempo, tecnicamente não é uma constante).

Os resultados do levantamento foram surpreendentes. As supernovas distantes que explodiram quando o universo estava apenas a 2/3 da sua idade actual estavam muito mais fracas do que deveriam estar, e por isso estavam muito mais distantes. A implicação disto foi que o Universo tinha se expandido muito mais rápido do que deveria, se as idéias atuais fossem corretas.

Este diagrama revela mudanças na taxa de expansão desde o nascimento do Universo há 15 bilhões de anos. Quanto mais rasa for a curva, mais rápida será a taxa de expansão. A curva muda notavelmente cerca de 7,5 bilhões de anos atrás, quando objetos no Universo começaram a se separar a um ritmo mais rápido. Os astrônomos teorizam que a taxa de expansão mais rápida é devida a uma força misteriosa e escura: a energia escura. Imagem via NASA/ STSci/ Ann Feild/ HubbleSite.

Meter com muito ceticismo na comunidade astronômica quando estes resultados foram revelados, as observações foram logo replicadas por outras equipes e outros métodos. Na virada do milênio, estava ficando claro que a expansão do universo não estava, como era comumente acreditado, diminuindo. Na verdade, está a acelerar.

Even mais estranhamente, a expansão tinha sido desacelerada, como seria de esperar, até sete ou oito bilhões de anos após o Big Bang. Mas então, por razões completamente desconhecidas, uma misteriosa “força anti-gravidade” começou a dominar, superando o freio que a gravidade estava colocando na expansão, que então reverteu sua desaceleração e começou a acelerar.

Você pode imaginar como esta revelação foi chocante para os astrônomos e cosmólogos.

A força responsável por esta aceleração foi apelidada de energia negra pelos cientistas. Neste caso, escura significa desconhecida em vez de literalmente escura, como é o caso da matéria escura. Deve-se notar que a energia escura e a matéria escura são fenômenos completamente não relacionados. Leia mais: O que é matéria escura?

Para acrescentar ao mistério, as propriedades desta estranha energia escura parecem combinar com a constante cosmológica de Einstein, às vezes chamada de seu fator fudge e mais tarde descrita pelo próprio Einstein como o maior erro profissional de sua vida. Einstein detestava a idéia de um universo em expansão, preferindo a estática postulada pela cosmologia de estado estacionário, que era popular no início do século 20. Ele inventou uma força anti-gravidade, de origem indefinida, para contrabalançar a expansão observada do universo, que resultaria em um universo não-expandido. Entretanto, Einstein mais tarde retraiu esta idéia, que não foi apoiada por observações.

A energia negra é um dos grandes mistérios não resolvidos da cosmologia. Pensa-se agora que ela constitui 68% de tudo no universo, com a matéria normal, a chamada matéria “bariónica” – cada pedaço de matéria que podemos realmente ver – compreendendo apenas 5%, sendo o resto constituído por matéria escura, outro enorme mistério cósmico.

A energia escura comporta-se como a força anti-gravidade de Einstein, mas a sua natureza e origem permanecem desconhecidas. Um dos seus maiores mistérios é porque a energia negra começou a dominar o ritmo de expansão do universo num determinado momento, biliões de anos depois do Big Bang. Se ela existe agora, porque não esteve sempre lá?

A física da energia negra é altamente especulativa. Uma idéia que ganhou terreno nos últimos anos é que a energia escura se assemelha a uma força conhecida como “quintessência”, que é um parente do Campo Higgs. Mas ainda não há evidências observacionais que sustentem ou descontem isso.

Os cosmólogos também não têm idéia se a energia escura continuará a acelerar a expansão do universo para sempre, levando a um cenário, muito no futuro, onde a aceleração irá superar as forças que mantêm o universo unido e literalmente rasgar toda a matéria no cosmos, num cenário de pesadelo conhecido como o Grande Rip.

Existem várias missões espaciais actuais e futuras e pesquisas terrestres que irão investigar a natureza da energia negra, incluindo o telescópio WFIRST em órbita da NASA e a Pesquisa Internacional de Energia Escura, sediada no Chile.

Espera-se que em breve cheguemos a uma maior compreensão desta força misteriosa, que está tendo tanta influência sobre o futuro do cosmos, mas para obter essa compreensão precisamos esboçar uma história muito mais completa do universo. Entretanto, a arqueologia de 13,7 bilhões de anos é extremamente difícil e demorada, com tantos estratos antigos nessa história faltando ou indistintos, então não podemos esperar quaisquer revelações repentinas.

Bottom line: O universo está a expandir-se mais rapidamente do que as teorias mais antigas previam. A energia negra, um dos grandes mistérios não resolvidos da cosmologia, pode causar a sua expansão acelerada. Pensa-se agora que a energia negra constitui 68% de tudo no Universo.

Andy Briggs passou os últimos 30 anos a comunicar astronomia, astrofísica e tecnologia da informação às pessoas. Você pode ouvir sua atualização semanal de astronomia e notícias espaciais, às segundas-feiras, no canal global de rádio da internet AstroRadio (http://www.astroradio.earth), onde ele também contribui para outros programas. Ele tem sido ativo em muitas sociedades astronômicas no Reino Unido e é um colaborador freqüente da revista Astronomy Ireland. Andy também dá palestras regulares sobre temas relacionados à astrofísica, como ondas gravitacionais e buracos negros. Ele vive na Catalunha, Espanha, com a sua filha.

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